31 de janeiro de 2012

pra enlouquecer

fala comigo com a língua na ponta dos dentes: di-va-ga-rim-nhu.
assim mesmo.
como se sem pressa a gente durasse mais,
como se falando e parando para mastigar o tempo se esquecesse de nós.
esquecesse que a gente tem apenas dias pra contar aos outros,
mas tem um mundo inteiro dentro de cada nós.
gerando filhos e vidas a cada hora.
gerando incontáveis juras de amor que ficam presas nas palavras inexistentes.

porque ninguém inventou ainda o tempo certo pra você poder ir embora sem me deixar saudade.
e ainda não foram grandes o bastante pra inventarem a palavra que cabe você.

costa leste



é lá no horizonte, onde criam-se os ventos, que meus olhos se perdem e pedem um pouco mais de cais.
a dança dos pés na areia me faz lembrar que de mãos dadas a gente se faz par,
mas é nos olhos que construímos nossas pontes.

faz falta de contar essas coisas,
te contar que escolhi aquele vestido pra usar essa tarde só porque você sorriu quando o viu balançar na primeira vez que o usei.
te contar que havia nove copos na hora do brinde, dividindo uma centena de cervejas estupidamente geladas, e várias vozes a contar sobre as esquinas e os prazeres da vida, mas que na hora de esbarrar o pé, assim sem querer, por debaixo da mesa, não tinha você.

olhando pra vista da foto que eu fiz pra você eu me lembro:
não tem arte sem observador, amor.
vou voltar correndo para sua paisagem. 



25 de janeiro de 2012

pra quem faz cócegas em meu coração

tododiaeuquerotedizerumacoisanoouvido.
tododiaeuquerolembrarvocêdemim.
tododiavocêmeacordaempensamento
e
tododiaeuquerodizerquemeueuésópravocê.

a dança

fiz um desenho pra você,
escrevi um recado,
dobrei o papel e não soube o que fazer.

coloquei meu cheiro nele,
minhas vontades e meu coração.

coloquei tudo, do único jeito que eu sei fazer.

mas guardei.

era tudo que eu tinha pra te dar,
mas olha,
vai que era pouco pra você.

24 de janeiro de 2012

página 24, cap.1

helena carregava uma bolsa de sonhos.
em cada passeio um sonho a menos e muitos sonhos a mais, ela dizia.
a bolsa enganava pelo tamanho.
numa roda de amigos, a pequena, remendada e desbotada bolsa de helena escondia que ali ela carregava o sonho de todos eles e ainda os dela.

helena não trocava sonhos por moedas e nem mesmo jogava-os ao vento como sementes.
criteriosa, ela abraçava um estranho na rua e assim, sutil, sem que o escolhido percebesse, e colocava o sonho dobradinho em seu bolso.

era perceptível que, ao andar, helena exalava gratidão de nunca ter visto ninguém jogar seus sonhos fora.

22 de janeiro de 2012

tatame

como num passo repetitivo, ele precisa mostrar que a luta se vence por insistência.
um nocaute conquistado pelo cansaço.

então, pega suas luvas em mais uma manhã e inicia todo o preparo. todo o aquecimento para que ele mesmo não seja afetado por sua própria tática.

é que não adianta muito, a vítima, em sua condição, deve se render,
gritando ou não.
o embate só termina quando ele vence.

seja lá qual for o prêmio.

16 de janeiro de 2012

15 de janeiro de 2012

o calendário, os ponteiros do relógio e todos os números esquecidos

e se alguém perguntar, ela não tem respostas.
ela vai sorrir mais um sorriso
e vai dizer, como quem pede desculpas: aconteceu.
e acontece sempre, todos os dias. basta saber olhar.

6 de janeiro de 2012

26.12.2011

porque tem hora que a gente esquece que é gente
e quer ser só gesto.

[palavra gritada de amô]

2 de janeiro de 2012

sobre o cheiro do tempo



é que o vento bateu em nossa porta, amor
pra me dizer que de hoje não passa.

disse que devo tomar o meu sempre banho da manhã,
pentear os poucos cabelos que ainda me restam,
entrar em minha roupa menos rasgada
e, se puder, deixar a porta aberta.

assim, desse jeito rasteiro, é que o tempo vai vir me buscar
e dizer olá com o mais doce sorriso,
me levar pra passear e quem sabe, amor,
quem sabe no caminho eu consigo te encontrar...