24 de novembro de 2009

abre
fecha
desliga
desliza
me emburro,
te empurro
me faço e desfaço neste embolado de palavras que só queriam ser cama.
sabe,
dois corpos poderiam sempre ocupar o mesmo espaço.

12 de novembro de 2009

depois do ponto, o silêncio

eu nunca tinha te visto assim, tão de perfil, querida.
máquina de escrever ao colo...
nem perto cheguei de escrever uma palavra se quer como as tuas.
somente cartas de amigos... amores pouco reconhecidos...
lágrimas, gargalhadas e diversas vírgulas de dissimulação.
tudo agarrado ao tipo gráfico daquela herança.

galeano me disse uma vez,
"poucos são os que dão com palavras algo mais do que nada"

eu jurei nunca mais esquecer.

10 de novembro de 2009

pode ser?


façamosumtrato: eufechoosolhosevocenãodesgrudadosmeuslábios.



foto: adelaide ivanova

3 de novembro de 2009

contra-regra

toda perna deveria ser um dia colo. ser um dia em coro os passos largos da pressa. ser sempre os passos certeiros da sua chegada.
nenhuma nova mania deveria tomar lugar deste tédio gostoso de esperar o sono chegar, cantarolando palavras cruzadas, perdidas durante todo o caminho de chegar até aqui.

... ela fez juramentos de segredos que nem se lembra mais, e fica feliz de cumprir o combinado de acreditar em todos os sonhos impossíveis...

28 de outubro de 2009

tarde de hoje

enlouquecida na vontade de entardecer o medo.
velho, ela queria correr com tempo.
cruzando línguas em formato de promessas.
não acreditava mais nos sonhos de anteontem.

acreditava na própria esperança e se desfazia na vontade de existir mais uma vez.

inversão.
seu pensamento mudava a cada novo olhar cruzado vacinado contra a raiva.

seria loucura, meudeus?

15 de maio de 2009

que seria das curvas sem os apertos...?

o dia fica mais solto quando a gente não tenta se fazer do outro.
quando eu deito pra sentir e ver você sorrir.
quando seus olhos não procuram teus pensamentos em mim.

a gente se ama mais quando deixamos de querer ser e somos.
quando não fingimos ser cozinheiros para moldar como bolinhos-de-chuva o querer alheio...

5 de abril de 2009

não é sobre amor

e pensar que eu separei a página dos classificados do jornal de domingo. circulei os apartamentos de dois quartos. só não nos mudamos. não passamos nem perto de alugá-lo.

eu senti dor mas não chorei.
caminhei com os passos mais largos que pude para te ter o mais longe.
era na minha cabeça que você martelava.

agora eu não sei, amor.
agora não posso segurar meu chôro, assim.
eu cansei de tentar nos reerguer. eu perdi as forças quando mais eu queria estar com você.

22 de março de 2009

com as mãos.

pegou dois dedos de distância só para sentir o cheiro.
o respirar dele era melhor do que todas as palavras juntas, desajeitadas, que formavam frases já previstas.
queria o olhar,
a forma de amar além do dizer.
queria um beijo de olhos abertos, só para não deixar de ver.
era querer em tanto que foi ficando de menos,
ficando e ficando só no querer,
pois virou-se e fechou os lábios, juntamente com os olhos.
respirou fundo como quem ofega pela décima vez, mas não quer que surja outra...
ligou o carro,
partiu.

18 de março de 2009

a morte da solidão

chegar em casa. ligar o som.
não.
chegar em casa e ligar o computador, depois, colocar música. alta, bem alta...
depois tv, depois abrir as janelas.
era só um quarto com todas as utilidades da casa inteira. biblioteca, sala de estar, quarto, escritório.
em 5m² ele vivia tudo. tudo em si.
sua voz grave metalizada e alta era ouvida somente quando falava ao telefone.
em três anos que morou ali devo o ter escutado umas quatro vezes.
visita da mãe. visita de um conhecido. uma vez cada.
filmes eróticos, páginas de sexo... será que ele era gay? será pedófilo...?
a família depois vai saber. eles levaram o computador. eu não vou saber. eu queria mesmo era ficar com os livros dele.
comprou um passarinho.
o bicho amarelo fazia campainha para a samambaia e, os dois para ele, claro.
morreu no hospital por sorte. se tivesse no apartamento seria encontrado pelo incômodo do mal-cheiro, não pela falta.
como ele está se resolvendo com Deus?
terá sido perdoado pela ganância do próprio amor? egoísmo. dividir si somente consigo.
terá sido acalentado pelas mãos de Deus pelo abandono da alma? já foi. e não tem livros, nem pássaro, nem samambaia...