22 de março de 2009

com as mãos.

pegou dois dedos de distância só para sentir o cheiro.
o respirar dele era melhor do que todas as palavras juntas, desajeitadas, que formavam frases já previstas.
queria o olhar,
a forma de amar além do dizer.
queria um beijo de olhos abertos, só para não deixar de ver.
era querer em tanto que foi ficando de menos,
ficando e ficando só no querer,
pois virou-se e fechou os lábios, juntamente com os olhos.
respirou fundo como quem ofega pela décima vez, mas não quer que surja outra...
ligou o carro,
partiu.

18 de março de 2009

a morte da solidão

chegar em casa. ligar o som.
não.
chegar em casa e ligar o computador, depois, colocar música. alta, bem alta...
depois tv, depois abrir as janelas.
era só um quarto com todas as utilidades da casa inteira. biblioteca, sala de estar, quarto, escritório.
em 5m² ele vivia tudo. tudo em si.
sua voz grave metalizada e alta era ouvida somente quando falava ao telefone.
em três anos que morou ali devo o ter escutado umas quatro vezes.
visita da mãe. visita de um conhecido. uma vez cada.
filmes eróticos, páginas de sexo... será que ele era gay? será pedófilo...?
a família depois vai saber. eles levaram o computador. eu não vou saber. eu queria mesmo era ficar com os livros dele.
comprou um passarinho.
o bicho amarelo fazia campainha para a samambaia e, os dois para ele, claro.
morreu no hospital por sorte. se tivesse no apartamento seria encontrado pelo incômodo do mal-cheiro, não pela falta.
como ele está se resolvendo com Deus?
terá sido perdoado pela ganância do próprio amor? egoísmo. dividir si somente consigo.
terá sido acalentado pelas mãos de Deus pelo abandono da alma? já foi. e não tem livros, nem pássaro, nem samambaia...