24 de fevereiro de 2010

quando o mundo gira.

porque ela não consegue mais segurar tudo dentro de si e precisa dizer amor, quando vamos mesmo passar a tarde olhando o sol esquentar essa natureza toda e planejar as férias dessas crianças que ainda nem geramos? porque ela precisa sentir a vida existindo em sua veia para se permitir amar aquele homem, que é mesmo o menino dos olhos castanhos mais lindos. porque só vivendo às pressas é que ela vive o agora e vive o hoje e vive o sempre, e vive esse tal de amor que ela chegou um dia a desconfiar que era coisa de novela sua existência.
porque desde que se olharam com muita raiva, surgiu o muito amor e agora não brigam mais pelo lado da cama que dá para a parede, porque ela gosta mesmo de assistir tv olhando ele dormir suado. é ela gosta de ficar olhando e imaginando que mesmo com rugas ele ficaria lindo e ainda teria este cheirinho de neném gostoso. porque ela se sente mãe e mulher e a melhor amante quando se deita do lado direito da cama e se embola entre pernas mesmo que seja para vê-lo dormir enquanto finge que assiste tv.

8 de fevereiro de 2010

a primeira vez que admitiu ver as estrelas sem contar com o dedo indicador

tinha um espaço guardado ali.
pensou em pegar o avião e ver as chuvas de julho que ele dizia ser um terror.
pensou em pegar um ônibus para se encontrarem no meio do caminho,
afinal, as praias... ah as praias que ela tanto odiava e ele fazia pose para cada foto de mar ao fundo.
mas ele a fazia rir.
fazia ela pensar que o sotaque de lá era o mais lindo de todos os lugares e que o nome dele era mesmo muito mais que nome bíblico.
era nome de amor.
fazia ela pensar que todos os desamores do meio do caminho não significavam nada além de passa-tempo divertido. afinal, nada como começar uma conversa perguntando "e aí, como vai o relacionamento" e esperar como resposta "nada bem". e esperar como resposta "melhor quando penso que podia ser você".
melhor quando acorda e vê que tinha um espaço ali, na agenda telefônica e agora não tem mais. que o nome sumiu dos seus sonhos, que as conversas diminuíram de rítmo e que o nome dele é mesmo muito bonito, mas não é bíblico. porque ela não gosta de igreja. ela gosta é da realidade com sabor de historinha e por isso prefere que seja assim.
de longe.
de "um dia vai que acontece".
mas que a vida não pára pra esperar na rodoviária a bagagem extraviada.

quando ela crescer



porque quando eu crescer quero ser uma dançarina shamânica.

1 de fevereiro de 2010

outra estória de ficção realística

tinha um medo tênue de perder aquele chinelo
calçava, machucava
tirava, ficava com os pés no chão.

não havia outro
não em furtacor
não assim, tão tortinho do lado esquerdo
pronto para calçar seu pé que não era 36 mas também não era 37.

poderia encostá-lo. dar um tempo.
foi essa a idéia.
inaceitável, ela pensou.
fez cara de quem não aguenta mais passar mertiolate
e se virou.

foi mesmo embora com as solas dos pés encostadinhos no chão.