21 de novembro de 2010

"nossos filhos seriam punks, straight edge's, crusties,libertários?


...pulando no sofá, ouvindo lärm, fyp e ex-comungados
ao lado estariam os livros, Marx, Drummond, Monteiro Lobato.."

02:00 am

um suspiro forte.

mais forte que a carne é testar este fio limite em estar na mesma cama de solteiro que você
embalada pelos mesmos braços que anteontem
e não estar a nos embalar na libido louca do amor máximo.

um arrepio doloroso.

é muito pior se jogar dum penhasco imaginário ou abraçar-se à barreira real?

houve uma época em que os deuses fariam o dia chover pelo simples despertar do não.

e ela pensaria mais uma vez: sempre chove aqui fora quanto tem tempestade aqui dentro...

mero acaso da meterologia, ou Deus também se cansou de nós?

...

9 de novembro de 2010

de mim

mentirinha colorida

toda essa vontade de estar fora de alcance. essa vontade de fazer pararem de gritar.
interditar as vias de acesso.
oh deus, todas essas vias de acesso que me fazem ver destinos tortos.

colocou seus ouvidos para dentro do corpo quente. 
era só dor que ouvia. 
grunidos de desespero interno. 

sem precisar ler qualquer cheiro de medo, sentiu mesmo que os olhos fitavam cacos de vontade de não estar.
que apontavam para lugar nenhum.

dizem que os dias passam de acordo com os passos do sol.

ela prefere dizer:
dizem que os dias passam de acordo com as notas musicais.

1 de novembro de 2010

sobre o que não foi


toda essa falta, clarice
toda essa vivência ao avesso
todas as vezes que respondeu à mensagem mentalmente
todas as vezes que esteve sem estar

agora olha para as mãos caçando as marcas da própria culpa e não vê nenhuma prova de sua própria incapacidade.
então me diz, clarice, por que isso?
por que se esconder assim de si quando você sabe que o mundo está mesmo a esperar por teus olhos famintos de sarcasmo?!
por que se apoiar em um sonho desfeito com os pés de um gigante e porque diabos chorar pela decepção?

clarice, todos nós temos caminhos bifurcados por deltas que não desaguam no mar
mas veja,
o dia não para, a noite não para e o relógio não controla o tempo...

era só um plano.
só um dos planos, querida.

12 de setembro de 2010

foi tiê mas poderia ser scarlett


"e se pensar a gente já queria tudo isso desde o início"

30 de julho de 2010

te vejo na primavera

porque todas as folhas vão cair e o cheiro das flores vai ficar impregnado aqui dentro. e você sabe, é que galhos sempre esperam o calor chegar para se enfeitarem de verde de novo. e depois de toda troca de pólem, quero que me pegue na estação para que eu reveja as cores, todas as cores indecifráveis desse seu jardim.

29 de julho de 2010

r-emoção

por muito dancei conforme

calei-me ao contrário
deite-me após tanto rodar

feliz ao ponto.
talvez até mal passado.

por vezes amor cozido com os melhores temperos.

em muitas a utilização das mais amargas ervas


amor cortado em minúsculas fatias
ainda assim, receio em mastigar.
agilidade em engolir.

digestão difícil de se realizar.

sair da mesa sem derrubar o copo é impossível pra quem nunca fez do malabare sua melhor arte.
tirar os farelos de pão do colo também exige perspicácia...

mas veja bem. isso não é motivo para continuar sentado o resto do dia.

9 de maio de 2010

todas as vezes que ela começa a achar que esta temperatura boa vai durar, o dia amanhece com um sol ensurdecedor. daqueles de tirar o sorriso de qualquer um. daqueles que arde até na sombra. daqueles que dá vontade de chorar só de pensar que nas calçadas não tem árvores...

-

ele acordou, juntou suas roupas. tudo que tinha ganhado, tudo que ele tinha aprendido, resolveu levar para além daqueles muros. resolveu tornar realidade sua existência e parou no meio o tratamento.
pegou o trem e voltou.

agora ela vai fazer o mesmo. no fim da vida, ela vai recomeçar ao lado do único filho não biológico.

há um cômodo vazio em minha casa

há uma casa ressucitada no fim do bairro.

28 de abril de 2010

estar no meio do caminho é bom quando se sabe pra onde está indo.
estar no meio do caminho é desesperador quando nem se quer sabe em qual caminho está.

vou dar uma dica:
é claro que a minha é a segunda opção.

26 de abril de 2010

ilha sem ponte

disse que queria meia dúzia daquele chá estranho.
disse isso com um olhar vazio, sem fitar a alma alheia.
disse como quem preferia ficar calado e só pegar a mercadoria destinada a si.


às vezes ele liga a noite pra dizer palavras que se encaixariam muito bem nas letras de músicas que ela mais adoraria acordar escutando.
às vezes só de dizer oi dá vontade de dizer tchau.


escuta o silêncio, moça.
escuta só desta vez...

21 de abril de 2010

ah.

pirraça mental.
é preciso trocar as fraudas deste bebê interno.


7 de abril de 2010

um dia ela acordou e estava de saias rodadas

concordo plenamente, querida
mas antes eu gostaria de dizer algumas coisinhas sobre tudo que venhamos a dizer que são pensamentos e na verdade, são divagações repetidas e recriadas como se fossem o puro estalo de compreensão.
- não existe uma verdade estabelecida quando se fala em mais de uma pessoa envolvida.
- abrir-se à compreensão não quer dizer ser idiota.
- não aceitar ou simplesmente ir contra à corrente não quer dizer ser intransigente.

um dia ela andava só de tênis. não suportava a idéia de ter a pele dos pés exposta. tinha nojo. asco. depois ela gostou do modelo de sandalia gladiadora. essa é pesada, não parece uma bicha. agora quer os sapatos meia pata. extravagante. mas ainda anda de tênis. e eu te pergunto: mutação ou crescimento?

te respondo: quem não pensa não muda.

2 de abril de 2010

estórias de ponto de ônibus

todo mundo sabe que a palavra nunca existe pra dizer "logo"
e todo mundo sabe que coração machucado é casa desorganizada:
agita a calmaria estabelecida, propões novas condições de bem estar e depois voltam a se deitar nas cadeiras com as pernas na mesa.

sentada num banco de ônibus ela reclamava pra si mesma a perda do tempo dedicado, lamentava das verdades pré-fabricadas e cantarolava que "se alguém agora procurar por você, talvez não ache mais em mim".

era o uso do talvez substituindo o "nunca" com muita sensatez.

5 de março de 2010

pra não dizer que não falei de amigos

hostilidade, querido.
não mais raiva, não mais decepção, não mais ódio escancarado nos olhos.
não mais tristeza, não mais dor, não mais pensamento de tempo perdido com você.

uma vez ela disse. traição é imperdoável.
e ela não sabe bem o que foi que você fez,
mas sabe,
você deixou de fazer tanta coisa.

e aí ela deixou de responder a teu "olá" como quem troca de música porque enjoou do refrão.
assim.
com aquela melancolia de aprender uma nova letra,
e com um rastro de melodia familiar na cabeça.

3 de março de 2010

pedacinhos muitos de você.


porque minha nova droga é minha antiga droga.
e eu adoro isso.

24 de fevereiro de 2010

quando o mundo gira.

porque ela não consegue mais segurar tudo dentro de si e precisa dizer amor, quando vamos mesmo passar a tarde olhando o sol esquentar essa natureza toda e planejar as férias dessas crianças que ainda nem geramos? porque ela precisa sentir a vida existindo em sua veia para se permitir amar aquele homem, que é mesmo o menino dos olhos castanhos mais lindos. porque só vivendo às pressas é que ela vive o agora e vive o hoje e vive o sempre, e vive esse tal de amor que ela chegou um dia a desconfiar que era coisa de novela sua existência.
porque desde que se olharam com muita raiva, surgiu o muito amor e agora não brigam mais pelo lado da cama que dá para a parede, porque ela gosta mesmo de assistir tv olhando ele dormir suado. é ela gosta de ficar olhando e imaginando que mesmo com rugas ele ficaria lindo e ainda teria este cheirinho de neném gostoso. porque ela se sente mãe e mulher e a melhor amante quando se deita do lado direito da cama e se embola entre pernas mesmo que seja para vê-lo dormir enquanto finge que assiste tv.

8 de fevereiro de 2010

a primeira vez que admitiu ver as estrelas sem contar com o dedo indicador

tinha um espaço guardado ali.
pensou em pegar o avião e ver as chuvas de julho que ele dizia ser um terror.
pensou em pegar um ônibus para se encontrarem no meio do caminho,
afinal, as praias... ah as praias que ela tanto odiava e ele fazia pose para cada foto de mar ao fundo.
mas ele a fazia rir.
fazia ela pensar que o sotaque de lá era o mais lindo de todos os lugares e que o nome dele era mesmo muito mais que nome bíblico.
era nome de amor.
fazia ela pensar que todos os desamores do meio do caminho não significavam nada além de passa-tempo divertido. afinal, nada como começar uma conversa perguntando "e aí, como vai o relacionamento" e esperar como resposta "nada bem". e esperar como resposta "melhor quando penso que podia ser você".
melhor quando acorda e vê que tinha um espaço ali, na agenda telefônica e agora não tem mais. que o nome sumiu dos seus sonhos, que as conversas diminuíram de rítmo e que o nome dele é mesmo muito bonito, mas não é bíblico. porque ela não gosta de igreja. ela gosta é da realidade com sabor de historinha e por isso prefere que seja assim.
de longe.
de "um dia vai que acontece".
mas que a vida não pára pra esperar na rodoviária a bagagem extraviada.

quando ela crescer



porque quando eu crescer quero ser uma dançarina shamânica.

1 de fevereiro de 2010

outra estória de ficção realística

tinha um medo tênue de perder aquele chinelo
calçava, machucava
tirava, ficava com os pés no chão.

não havia outro
não em furtacor
não assim, tão tortinho do lado esquerdo
pronto para calçar seu pé que não era 36 mas também não era 37.

poderia encostá-lo. dar um tempo.
foi essa a idéia.
inaceitável, ela pensou.
fez cara de quem não aguenta mais passar mertiolate
e se virou.

foi mesmo embora com as solas dos pés encostadinhos no chão.

24 de janeiro de 2010

primeira pessoa do singular,
e não do plural.

uma carta pra você, gata


estridente seu modo de existir.
antes ao meu lado, onde posso guiar tuas mãos até as minhas.
agora que vocês são duas almas em uma mesma forma de ser...
eu queria era ver tudo crescer,
seus olhos de menina se tornarem de águia
tua fome de viver e nada mais a contar nos dedos

vadiagem desse destino.
a gente ia mesmo era por tudo pra quebrar
e os outros que se divirtam pra lá, porque neste mundo aqui, quem mandava era a vontade de fazer.


transformaram tuas asas em rodas


volta e traz nossa vida de volta.
e não precisa ligar pra dizer porque eu já estou mesmo esperando.

7 de janeiro de 2010

entre riso da bahia e os olhos do espírito santo

- ouviu?


ele disse ser uma fenda espacial. criou palavras em cima de cada uma já escrita nas placas. acelerava, queria sentir o cheiro daqueles malditos eucalípitos. olhava pra trás e ria. era felicidade, eu sei. lugar desconhecido. "eu vou fumar tudo. vou fumar todo mundo da fronteira". e ia mesmo. levou uma par de chinelos e de amigos. levou os próprios olhos como máquina fotográfica. tá-tudo-aqui.

- temos hora pra voltar.
- não se preocupe. eu levo suas coisas rio adentro. duvida que te trago um pedaço da lua?

... aliás, quem duvida?

6 de janeiro de 2010

...


não sabe o que faz depois que se apega
desejar saber o que foi que se pensou ao ler a ultima mensagem antes de embarcar.
desejar escrever e perguntar,
desejar ligar e ouvir,

desejar nada
e só saber.

a gente se casa ou se cala?

porque a gente se mata cada vez que se amarra,
e faz da palavra fácil a arma que corta, mas logo que se seca
- o sangue, não a a fala.

ela ia te engolir, pra ficar mais fácil
ia digerir.
ia tomar anti-ácido em dose dupla só pra te conter.





ia do verbo não-sei mais-o que-faço.